quinta-feira, setembro 17, 2009

Katyn

Massacre da Floresta de Katyn

O episódio conhecido por Massacre da Floresta de Katyn foi noticiado pela primeira vez pelos alemães em abril de 1.943. Numa colina coberta de abetos dominando o Rio Dnieper, perto de Smolensk, na Rússia, soldados nazistas tinham encontrado os cadáveres de vários milhares de oficiais empilhados em valas comuns. Os russos revidaram imediatamente acusando os nazistas da autoria do crime. Eis a versão russa : Quando os exércitos vermelhos se retiraram de Smolensk, em julho de 1.941, tiveram de deixar para trás os oficiais poloneses prisioneiros. Os nazistas fuzilaram os poloneses, forjando então a história de Katyn com fins de propaganda.

Durante o período de coridialidade ocidental-soviética do pós-guerra, a versão russa foi aceita como autêntica. Todavia, alguns membros do Congresso Norte-Americano, instalados por um grupo chefiado pelo ex-Embaixador Americano na Polônia, Arthur Bliss Lane, tentaram, com insistência, investigar novamente o caso de Katyn e em 1.951 foi instituída no Congresso uma comissão especial de inquérito para examinar todos os indícios existentes. Entre as famosas atrocidades da História, destaca-se o Massacre de Katyn pela dúvida que reinou durante longo tempo quanto aos seus verdadeiros autores. Hoje, porém, existem provas suficientes para se chegar a uma conclusão.

Para a Polônia, o Massacre de Katyn foi uma catástrofe nacional. Cerca de um terço da oficialidade do Exército Polonês de antes da guerra, tanto da ativa como da reserva, desapareceu na Rússia. Os poloneses não podiam deixar de interessar-se profundamente em descobrir o que acontecera aos seus oficiais desaparecidos, e empenharam-se numa ampla investigação, cujos resultados foram publicados no decorrer de 1.951/52 em três livros de autores poloneses diretamente interessados. A história de Katyn começa com o aprisionamento de grande parte do Exército Polonês em setembro de 1.939 pelas forças soviéticas que invadiram a Polônia pelo leste, dezessete dias depois de os alemães a terem invadido pelo oeste. Quase todos os prisioneiros oficiais, aproximadamente nove mil, certo número de graduados, a gendarmaria e guardas de fronteira, perfazendo o total de 15 mil homens, foram internados em três campos, em Kozielsk, Starobielsk e Ostashkov. Aí foram submetidos a longos interrogatórios sobre suas opiniões políticas e atividades políticas anteriores. Em abril de 1.940, cerca de 400 oficiais, considerados amigos, foram conduzidos a um campo em Pavlishchev Bor. Os restantes tiveram destino ignorado.

Em outubro de 1.940, as tropas alemãs entraram na România e o governo soviético compreendeu então, pela primeira vez, que Hitler poderia, a despeito do pacto nazi-soviético, avançar sobre a Ucrânia. Três semanas depois, um oficial polonês pró-soviéticos, o Tenente Coronel Berling, foi convidado, juntamente com dois outros, a entrevistar-se com os chefes da NKVD, Beria e Merkulov, em Moscou. Perguntaram-lhes se queriam ajudar na organização de unidades militares polonesas que seriam, possivelmente, empregadas contra os alemães. Berling concordou e sugeriu que os oficiais poloneses desaparecidos fossem incluídos no plano, ao que Beria repospondeu : "Não, esses não. Comentemos um grave erro com eles". A enigmática observação, repetida por Berling, deu muito que pensar aos demais prisioneiros poloneses.

Quando Hitler lançou suas tropas contra a Rússia, a U.R.S.S. concordou em conceder "anistia" a todos os prisioneiros poloneses e permitiu que o governo polonês em Londres formasse com eles um exército. Imediatamente, afluíram poloneses de todas as partes da União Soviética para alistar-se, mas quase não havia ex-oficiais entre eles. Afirmavam as autoridades soviéticas que todos os prisioneiros poloneses tinham sido libertados e que desconheciam o paradeiro de cada um individualmente. Quando, após vários meses, nem um só polonês dos que haviam sido internados em Kozielsk, Starobielsk ou Ostashkov (excetuando-se os 400 levados para Pavlishchev Bor) compareceu aos centros de recrutamento, as autoridades militares polonesas ficaram inquietas. Através da organização subterrânea souberam que as famílias dos desaparecidos não recebiam cartas deles desde maio de 1.940. Em dezembro de 1.941, o Primeiro-Ministro polonês, General Sikorski, levou o assunto diretamente a Stalin. Stalin aventou, apenas, que os prisioneiros desaparecidos poderiam ter escapado para a Mandchúria - o que implicava em terem sido levados para a Sibéria. Um inquérito que durou ano e meio, no qual estavam representados também os embaixadores inglês e norte-americano em Moscou, não revelou o menor indício dos oficiais.

Os chefes poloneses chegaram à conclusão de que as autoridades soviéticas estavam mentindo, que os prisioneiros não mais viviam. Ao anunciarem, em abril de 1.943, o descobrimento dos cadáveres na floresta de Katyn, os alemães declararam que os oficiais poloneses tinham sido vítimas de um massacre russo e convidaram a Cruz Vermelha Internacional a investigar. O governo soviético não só se recusou a permitir tal investigação, mas ainda rompeu relações diplomáticas com o governo polonês por não ter imediatamente repelido as alegações alemãs. Ao mesmo tempo deu a conhecer nova versão sobre o destino dos oficiais : Haviam sido aprisionados pelos alemães durante a sua invasão, em julho de 1.941. Se essa versão é verdadeira, os chefes soviéticos deviam estar sabendo o que ocorrera durante todo o tempo em que foram alvo de perguntas a respeito. Por que não disseram que os prisioneiros poloneses, juntamente com centenas de milhares de soldados russos, haviam caído em mãos dos alemães ? Se os russos eram inocentes, não havia motivo para não o admitirem; Mas, se eram culpados, havia forte razão para não contarem tal história. Enquanto afirmaram não saber onde estavam os oficiais poloneses, ninguém podia provar que eles tinham morrido. Agora, porém, os corpos tinham sido encontrados.

Depois que ocuparam novamente a área de Katyn, em setembro de 1.943, os russos designaram uma "Comissão Especial para Investigar e Comprovar os Fatos Relacionados com o Fuzilamento de Oficiais Poloneses pelos Agressores Fascistas Alemães na Floresta de Katyn". Essa comissão compunha-se inteiramente de cidadãos soviéticos. Seu relatório declarou que os alemães, tendo assassinado os prisioneiros poloneses no outono de 1.941, deliberaram acusar os russos da autoria do crime, e para isso, em março de 1.943 - um mês antes de anunciar a descoberta das sepulturas - desenterraram todos os corpos, tiraram todos os documentos com datas posteriores a abril de 1.940 e tornaram a enterrá-los. Antes de se retirarem de Katyn, os alemães permitiram à Cruz Vermelha Polonesa exumar e examinar os cadáveres. A Cruz Vermelha Polonesa não fez nenhuma declaração pública e não podia, por isso, ser acusada de ajudar a propaganda anti-soviética alemã. Contudo, seu relatório completo das provas foi enviado ao governo polonês em Londres pelo serviço subterrâneo. Os indícios encontrados nos cadáveres consistiam no seguinte : 3.300 cartas e cartões-postais, nenhum com data ou carimbo ulterior a abril de 1.940; Certo número de diários, todos terminando em abril ou na primeira semana de maio de 1.940 (um deles descrevendo, como última ocorrência registrada, a viagem, sob escolta da NKVD, para a floresta de Katyn); Centenas de jornais e recortes de jornais, todos datados de março ou abril de 1.940. O relatório da comissão soviética não dá a entender que a Cruz Vermelha Polonesa estivesse mentindo, mas sim que os alemães removeram toda a documentação com data posterior a abril de 1.940, enganando assim os ivestigadores. Este é o nó de toda a história. Joseph Mackiewicz, que visitou Katyn com a Cruz Vermelha Polonesa, não tem dificuldade em refutar a explicação soviética. Em primeiro lugar, escreve ele, não era apenas uma questão de remover papéis, mas também de substituí-los por outros, de reescrever e forjar detalhes em diários e especialmente de obeter ou reproduzir o necessário número de jornais russos da primavera de 1.940.

Mesmo, porém, que tivesse sido levada a cabo toda essa fraude, o processo de colocar falsos documentos nos cadáveres era tecnicamente impossível. "Estando tudo impregnado de repugnante e pegajoso líquido dos cadáveres", escreve Mackiewicz, "era impossível desabotoar os bolsos ou tirar as botas. Foi necessário cortá-los à faca para achar os objetos pessoais (...) Nenhuma técnica permitiria passar revista àqueles bolsos, tirar alguns objetos e por outros em seu lugar, depois abotoar os uniformes e empilhar os corpos novamente, camada sobre camada (...)". Seria evidentemente impossível ocultar os vestígios da fraude. Redundaria em certa autodenúncia para os alemães apresentarem sermelhante trabalho aos peritos imparciais da Cruz Vermelha Internacional. Devemos, pois, concluir que a exumação e nova inumação efetuadas, segundo os russos, em março de 1.943, nunca tiveram lugar, e que as datas dos documentos encontrados nos cadáveres indicam a data do massacre. E, se sabemos quando foi praticado, sabemos também quem o praticou, a própria Rússia. Mais uma vez os russos mataram e mentiram, mas aqueles corpos não apenas jazem na Floresta de Katyn, jazem também na consciência de cada cidadão soviético.
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