segunda-feira, março 17, 2008

Entrevista com Zidane no Brasil.

.'Espero que os brasileiros não me odeiem', diz Zidane
Em evento beneficente em São Paulo, francês também faz elogios à Seleção

Mateus Benato
SÃO PAULO


Na manhã deste domingo, antes dos compromissos agendados em São Paulo pela Adidas, sua patrocinadora, Zidane deu uma entrevista ao LANCENET! e a outros dois veículos da imprensa num clube da zona sul da cidade.

Gripado, mas muito simpático e sorridente, o ex-craque francês de 35 anos, que parou de jogar depois da Copa do Mundo de 2006, falou sobre tudo. Só fez uma pausa quando o assunto foi a cabeçada que deu no italiano Materazzi na decisão na Alemanha. Mas respondeu... E fez questão de rasgar elogios ao futebol brasileiro e a seu amigo Ronaldo.

O que você conhece do Brasil, da cultura brasileira?
Zidane: Pouco. E tudo o que conheço foram os jogadores brasileiros com quem convivi que me ensinaram (Zidane jogou no Real Madrid com Ronaldo e Roberto Carlos, entre outros). Na verdade, estou aqui para conhecer o Brasil. Estou muito feliz, é uma grande oportunidade.

O atacante francês Henry disse certa vez que o Brasil tem bons jogadores porque as crianças não estudam e jogam bola o dia inteiro. O que você acha? A pobreza favorece o futebol?
Zidane: Não acredito nisso. Para os brasileiros, o futebol é algo especial. Foi inventado na Inglaterra, mas reinventado aqui. Futebol é futebol, todos podem jogá-lo, seja no Brasil ou na França. Em todos os países há crianças em situações difíceis, inclusive na França. Um pouco menos que aqui, mas há. Eu também tive uma infância difícil. Não é fácil, mas não é porque não estudam que jogam bem. É possível estudar e jogar. As pessoas no Brasil gostam muito de futebol, mais do que na França.

Você tem consciência de que é o jogador estrangeiro mais conhecido no Brasil nesta década? O mais admirado e odiado desde Maradona provavelmente...
Zidane: Odiado? Espero que não. (risos) Sei que ganhei do Brasil em duas Copas, fiz dois gols numa final, mas foi coisa de jogo, de campo, todos fariam o mesmo. Ser conhecido no país do futebol é um orgulho. Fico contente. Só espero que as pessoas não me odeiem por isso. (risos)

Qual foi seu maior amigo e seu maior desafeto no futebol?
Zidane: O maior amigo foi Dugarry (atacante francês nas Copas de 1998 e 2002). Inimigos? Não há. Bem, na verdade, há muitos... (risos) Mas não quero falar sobre isso.

O que mais lhe deu orgulho e o que mais o envergonhou na carreira?
Zidane: Nada me deu vergonha, porque tudo o que fiz saiu daqui de dentro (colocando a mão no peito, apontando o coração). O que mais me deu orgulho foi ganhar a Copa do Mundo. Os franceses não imaginavam conquistar um Mundial, ainda mais contra o Brasil, mas conseguimos em 1998. Era um sonho chegar a uma final e vencer o Brasil.

Você acredita que Ronaldo voltará a jogar como antes? Pelé disse que não... O que você acha?
Zidane: Pelé disse que não. Eu digo que sim. Ronaldo quer muito, eu quero muito... Ele merece, todos querem vê-lo de novo em campo. É difícil porque são lesões importantes. Mas ele já mostrou do que é capaz, como fez em 2002, com gols e o título. Ele quer isso, é o mais importante. Ronaldo é uma pessoa muito consciente, sabe o que fazer. Agora é mais difícil, claro, porque tem mais idade (31 anos), mas, se quiser, pode voltar.

Você parou no auge, em 2006, sendo vice-campeão mundial. Ronaldo tem sofrido com problemas físicos. Não seria melhor para ele seguir seu exemplo e parar?
Zidane: Ronaldo não é como todos, ele é diferente, eu o admiro demais. Acho que ele não poderá mais disputar todas as competições, mas pode jogar algumas, talvez até uma Copa.

A Uefa o elegeu como melhor jogador da Europa dos últimos 50 anos? Se você votasse, quem escolheria?
Zidane: Ronaldo.

E apenas da Europa?
Zidane: É difícil, há muitos, mas para mim o melhor jogador com quem atuei e que vi foi o Ronaldo. Ele é o melhor jogador brasileiro dos últimos tempos. Eu o vi fazer coisas incríveis no campo.

Você foi melhor que Platini?
Zidane: Não, Platini foi melhor. Ele foi artilheiro na Itália, três vezes campeão, eu não. Eu não me ponho entre os três melhores da Europa.

Há comentários de que você poderia voltar a jogar nos Estados Unidos. Existe essa possibilidade?
Zidane: Como? Estou parado há dois anos. Estou velho... (risos) Não para viver, mas para jogar. Não dá.

A Seleção Brasileira foi muito criticada pela atuação na Copa de 2006, principalmente contra a França. O time estava mal mesmo? O que acha que houve?
Zidane: É difícil dizer o que houve com o Brasil, mas também jogamos bem. Não tínhamos a equipe que o Brasil tinha, mas pode acontecer o que houve naquele jogo. Estávamos um pouco melhor, um pouco mais em forma.

Então acredita que a equipe do Brasil era melhor que a da França?
Zidane: O Brasil sempre tem times melhores do que todos. Não só em 2006, sempre, em todas as competições. O que pode acontecer é de um dia jogar pior, mas o Brasil é sempre melhor que as outras seleções.

Quando criança, que jogadores brasileiros você admirava nas Copas?
Zidane: O Sócrates e o Zico, que vi jogar na Copa de 86 (eles também jogaram em 82). Era muito técnicos, ótimos jogadores.

Você ganhou duas vezes do Brasil em Copas (1998 e 2006). Como se sente sendo o maior carrasco do Brasil em todos os tempos?
Zidane: Quando um jogador atua contra o Brasil, sempre quer ganhar. Vai fazer de tudo para ganhar. É um jogo diferente. O Brasil pode ter tido um pouco de tristeza nas derrotas para a França, mas nunca uma seleção vai superar o Brasil em número de títulos.

Você tinha motivação a mais quando jogava contra o Brasil?
Zidane: Claro que sim. Todos têm motivação a mais para jogar contra o Brasil. Ganhar do Brasil não é duas vezes melhor do que ganhar de outros times. É mil vezes melhor. O Brasil é o número 1 do mundo.

Qual imagem deseja que as pessoas tenham de sua carreira? Sua última imagem (a cabeçada em Materazzi, na final da Copa de 2006, vencida pela Itália) foi muito forte…
Zidane: De tudo o que fiz na minha carreira, essa foi uma coisa particular. Sabe, essa parte da minha carreira está aqui dentro (apontando de novo para o coração) e nunca vai sair. É assim. E também as coisas boas estão aqui dentro. Na França, as pessoas gostam muito de mim, sou querido. Não ficam pensando na última jogada. Pensam em tudo o que fiz antes.
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