segunda-feira, fevereiro 09, 2009

Palestina: a solução final e José Saramago

James Petras
historiador americano

As imagens da força militar de Israel estão sendo transmitidas ao mundo inteiro: Soldados disparando na cabeça dos feridos; tanques derrubando paredes de casas, escritórios, o complexo de Arafat. Centenas de crianças, mulheres e homens, com as cabeças encapuzadas, sendo levados a coronhadas aos campos de concentração; helicópteros providos de artilharia destruindo mercados; blindados destruindo campos de oliveiras, e pomares de laranjeiras e limoeiros. As ruas de Ramallah devastadas. Mesquitas e escolas crivadas de balaços, desenhos de crianças rasgados em pedaços, crucifixos feitos em frangalhos, paredes autografadas pelos saqueadores do exército. Milhões de palestinos rodeados por tanques: A eletricidade cortada, sem água, sem telefones, sem alimentos. As tropas de assalto arrebentam as portas, os móveis e os utensílios de cozinha, seja o que for que faça a vida possível.
Por acaso alguém pode dizer que não sabia que os israelenses estão levando a cabo o extermínio de um povo, espremido nos porões, sob as ruínas de seus lares? Que aos feridos, aos agonizantes, se lhes nega deliberadamente a atenção médica? Que não sabia das imposições sistemáticas e metódicas do Alto Comando israelense de bloquear todas as ambulâncias, de prender e até assassinar os motoristas e o pessoal de emergência médica?
Temos o duvidoso privilégio de ver e ler em tempo real como se desenrola todo esse horror promovido pelos descendentes do holocausto, aqueles que, hipócrita e rancorosamente, reivindicam o monopólio do uso da palavra que melhor descreve o ataque contra todo um povo.
O público israelense, seus meios de comunicação e jornalistas, escandalizaram-se quando o escritor português José Saramago, prêmio Nobel de Literatura os confrontou com a verdade histórica: "O que está ocorrendo na Palestina é um crime que podemos comparar com o que ocorreu em Auschwitz." A opinião pública israelense, em lugar de refletir sobre seus atos violentos, lançou-se contra Saramago por ter se atrevido a compará-los aos nazistas.
Amós Oz, escritor israelense e, de vez em quando, pacifista — até que Israel entre em guerra — acusou Saramago de ser "anti-semita" e de uma "incrível cegueira moral."
A profunda imoralidade de uma guerra contra todo um povo é um crime contra a humanidade. Não há exceções especiais. São precisamente esses intelectuais israelenses, e os da diáspora, que se dizem "progressistas", aqueles que expuseram a sua própria cegueira nacional e a sua covardia moral, encobrindo suas desculpas para o terrorismo de estado israelense com os farrapos das vítimas do outro holocausto de 60 anos passados.
Basta ler a imprensa israelense para compreender a validade da analogia histórica de Saramago. Dia após dia, líderes proeminentes e respeitáveis, eleitos pelo eleitorado judeu, "bestializam" os palestinos, tudo para melhor justificar seus próprios excessos.
Segundo o diário israelense Maariv — citado por Roberto Fisk — um oficial das Forças de Defesa de Israel (IDF) aconselha suas tropas a estudar as táticas adotadas pelos nazistas na Segunda Guerra Mundial. "Se o nosso trabalho é tomar os campos de refugiados densamente povoados na Casbah de Nablus, um oficial deve analisar as lições das guerras passadas, até mesmo analisar como o exército alemão operou no Gueto de Varsóvia."
Quando a imprensa israelense acusou Saramago de anti-semita, estariam dispostos a estender essa calúnia aos oficiais de seu exército e às suas tropas por utilizarem as mesmas analogias? Ou os oficiais israelenses vão alegar simplesmente que "estavam cumprindo ordens" ao explodir edifícios com mulheres, crianças e anciãos em seu interior?
Nos fóruns mundiais — da União Européia às Nações Unidas, e em todo o Terceiro Mundo, Israel está sendo condenado por atos contra a humanidade.
Os arautos e os defensores das táticas de Israel perceberam que chamar os críticos de anti-semitas já não intimida as pessoas. A opinião pública mundial já viu e leu o bastante. Estamos nos dando conta que as "vítimas" se transformaram em algozes.
A exemplo de qualquer Estado Policial, Israel retirou todos os livros de Saramago das livrarias e das bibliotecas. Só falta leva-los à fogueira.
Com a mesma seriedade com que se preparou para o genocídio, Israel proibiu a entrada de todos os jornalistas nos guetos palestinos, salvo aqueles que aceitam e publicam os comunicados de imprensa do exército.
Como na Alemanha nazista, todos os homens palestinos entre 16 e 60 anos são aprisionados, muitos deles desnudados, algemados com cordéis, interrogados e muitos deles torturados. As famílias dos combatentes da resistência palestina são mantidas como reféns, sem água, alimento ou eletricidade.
Os soldados israelenses saqueiam as casas e roubam qualquer objeto de valor, destruindo os móveis. Como os nazistas, deixam morrer centenas de palestinos feridos enquanto as tropas israelenses bloqueiam todas as ambulâncias. Centenas de milhares enfrentam a desidratação e a morte por inanição, posto que se cortou todo o suprimento de água e alimento.
Tropas israelenses, tanques e helicópteros destruíram todas as principais cidades e campos de refugiados: Tulkarem, Al Bireh, Al Jader, Beit Jala, Kalqirya, Hebron. A descoberta de um único combatente da resistência resulta em culpa e castigo coletivos: pais, filhos, tios e vizinhos são retirados à força e levados aos campos de concentração, campos de futebol e parques infantis.
É evidente que a indignação judaica pela comparação feita por Saramago, do terrorismo israelense com Auschwitz, pôs o dedo sobre uma lembrança sensível: O desprezo por si próprios, dos executores, que se dão conta que foram bons discípulos do perseguidor nazista e que, a todo o custo, devem nega-lo.
Na mentalidade de bunker do psicopata Sharon e seus paranóicos seguidores, todos são racistas, anti-semitas, leitores entusiastas dos Protocolos dos Sábios de Sião, e tentam desmoralizar os judeus para que não levem a cabo a missão bíblica de uma Grande Israel, de um povo, de uma nação, de um Deus, e a expulsão de todos os palestinos de sua Terra Prometida.
A oferta de Sharon a Arafat — a liberdade para partir, mas sem regressar jamais — é dirigida também a todo o povo palestino.
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